Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 17 de Fevereiro de 1937.

Deseja a Câmara Municipal da Vila de Nordeste que seja feito o estudo das suas armas, bandeira e selo.

A sua elevação a Vila data de 18 de Julho de 1514, sendo das mais antigas do Arquipélago dos Açores.

Nordeste tem sido uma grande mártir com os abalos de terra que por vezes lhe têm causado grandes estragos.

Na história das suas calamidades salienta-se o facto passado em 1563 em que labaredas de fogo saíam da terra, destruindo as sementeiras e matando o gado, saindo das brechas abertas no chão, enormes pedras e grande quantidade de cinza, obrigando os donos das casas a tirar constantemente com pás o enxadas, a cinza, terra e pedras que caíam sobre os telhados, para assim evitarem que as casas abatessem sob o peso.

Os habitantes desta Vila vivem da pesca e da agricultura.

Parece-nos pois que as armas, bandeira e selo da Vila de Nordeste devem ser ordenadas pela seguinte forma:

ARMAS - De prata com uma faixa de negro carregada de três chamas de ouro e vermelho. Em chefe, um açor de sua cor com uma das quinas de Portugal nas garras. Em contrachefe, duas faixas ondadas de verde, carregadas de cinco peixes de prata postos 3, 2. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres “Vila de Nordeste” de negro. -

BANDEIRA - Verde. Cordões e borlas de prata e de verde. Haste e lança douradas. -

SELO - Circular, tendo do centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Nordeste”.

Como o mar constitui uma das principais riquezas desta Vila, a bandeira é de verde, cor que representa heraldicamente o mar.

Quando destinada a cortejos e outras cerimónias, a bandeira é de seda, bordada, é terá a área de um metro quadrado. Quando é para ser arvorada, deve ser de filel e terá as dimensões julgadas necessárias.

É indicada a prata para o campo das Armas e para os peixes, porque este metal na heráldica significa humildade e riqueza.

O negro da faixa é o esmalte que simboliza a terra e significa firmeza e honestidade.

O ouro das chamas significa fidelidade e poder.

O vermelho das mesmas chamas simboliza força e vida.

O verde das faixas ondadas significa esperança e fé.

O azul da quina denota zelo, caridade e lealdade.

E assim, com estas peças e estes esmaltes ficará bem representada a vida regional e a índole dos naturais.

Se a Câmara Municipal de Nordeste concordar com este parecer deverá transcrever na acta a descrição das armas, bandeira e selo como acima fica dito, e enviar uma cópia autenticada dessa acta juntamente com os desenhos rigorosos da bandeira e do selo, ao Sr. Governador Civil, pedindo-lhe para remeter esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior para, no caso do Sr. Ministro aprovar, ser publicada a respectiva portaria.

Lisboa, Fevereiro de 1937.

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Nordeste (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/NRD/UI0001/00009).