Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de ??? de ??? de 1936.

Em Sessão de 11 de Janeiro de 1928, pela Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, foi aprovado o parecer referente as Armas e bandeira da Vila de Cantanhede, que indicava um cortiço envolto de abelhas, representativo de antiga manifestação agrícola. A bandeira foi indicada de branco por o cortiço ser deste metal.

São passados anos e a Câmara Municipal de Cantanhede volta a solicitar um estudo sobre a simbologia local, alegando que a indústria do mel não tem hoje a menor importância e enviando algumas opiniões de pessoas de categoria intelectual que mais ou menos estão de acordo.

Nessas opiniões escritas, a mais antiga é datada de 15 de Novembro de 1935 e assinada pelo Sr. Viriato de Sá Cardoso. Sua Exª é de opinião que as armas dos Menezes, Condes de Cantanhede e depois Marqueses de Marialva, devem figurar em parte nas armas da Vila, pois que, além da importância de tal família, o ramo dos Condes de Neiva receberam em 1479 o Reguengo de Cantanhede e dele foram senhores por espaço de três séculos e meio.

Ainda diz que talvez o timbre das armas da Família Menezes - a donzela, com o escudete de ouro na mão direita, acompanhado de uma videira e de um pinheiro, principais riquezas locais, pudesse com acerto constituir as armas locais.

A opinião escrita que se segue é datada de 2 de Dezembro de 1935 e assinada pelo Sr. Dr. Jorge da Cruz Jorge, que aceita a opinião antecedente por lhe parecer a sua feição histórica, popular e característica, bem ligada com a representação dos antigos documentários a quem a terra muito deve, pois ali tiveram um bom palácio e fizeram melhoramentos importantes. Nota porém S. Ex.ª que seria mais interessante o incluir nas armas de Cantanhede, as Armas completas dos Condes donatários. Alvitra então que, no caso de poder ser, as armas sejam partidas dos Teles de Menezes e de um campo azul com um pinheiro de sua cor, realçado de negro e prata e acompanhado de dois cachos de uvas de ouro folhados de verde.

D. Fernando Tavares e Távora, em 7 de Dezembro do mesmo ano de 1935, diz que as armas devem ser partidas de ouro e prata, tendo no primeiro um pinheiro e no segundo uma videira e sobre tudo as Armas da Família Menezes e mais, no primeiro, um chefe de azul com a palavra "Fortitudo" e no segundo, um contrachefe de vermelho com a palavra "Loetilia".

Qualquer destas opiniões é vasta em razões interessantes, sendo o que fica exposto um breve resumo que, afinal, é o suficiente para nos podermos orientar dentro do possível e em conformidade com as regras estabelecidas pela Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, datadas de 14 de Abril de 1930.

Nestas regras estabelece-se que as armas municipais não poderão ser esquarteladas ou partidas, apresentando sempre um aspecto absolutamente simétrico e regular.

As quinas nacionais só em casos de elevada razão histórica poderão fazer parte das armas municipais.

Estas armas não têm timbre; são apenas encimadas, quando vilas, por uma coroa mural de quatro torres de prata.

Quando por razões excepcionais se deseja incluir em armas municipais, uma manifestação de reconhecimento por grande serviço prestado a localidade por alguma pessoa, poderá representar-se qualquer peça ou peças das armas dessa pessoa, por forma que a respectiva ordenação do conjunto não estabeleça confusão com as armas da família da mesma реssоа.

Sabendo-se que a principal riqueza local são os pinhais e as vinhas, somos de parecer que as armas, bandeira e selo da Vila de Cantanhede tenham a seguinte ordenação:

ARMAS - De prata, com um pinheiro de verde frutado de ouro troncado e arrancado de negro, acompanhado por dois cachos de uvas de púrpura folhados e sustidos de verde. Em chefe de azul, um anel de ouro com um rubim de vermelho, acompanhado de duas flores de lis de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres “Vila de Cantanhede" de negro. -

BANDEIRA - Esquartelada de amarelo e de púrpura. Cordões e borlas de ouro e de púrpura. Haste e lança douradas. -

SELO - Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal de Cantanhede". -

Como nas peças que representam a riqueza local, os pinheiros e a vinha, existe o ouro e a púrpura, a bandeira é esquartelada de amarelo (que corresponde ao ouro) e de púrpura. quando destinada a cortejos e outras cerimónias, a bandeira tem um metro quadrado e é bordada em seda. Quando destinada a arvorar, é de filel, com as dimensões julgadas necessárias, podendo neste caso dispensar as armas.

É indicada a prata para o campo das armas porque este metal, na heráldica, simboliza a humildade e a riqueza. O chefe é de azul, esmalte que denota zelo, caridade e lealdade. As flores de lis, o anel e as pinhas, são de ouro, metal que significa nobreza, fidelidade, poder e liberalidade. Os cachos são de púrpura, esmalte que denota opulência e riqueza. O pinheiro, o folhado e troncado dos cachos é de verde, que significa esperança e fé. O rubi é vermelho (sua cor) que simboliza a força e a vida. o tronco e raízes do pinheiro são de negro, que simboliza å terra e significa honestidade e cortesia.

A representação dos Menezes, antigos senhores e condes de Cantanhede, fica claramente assinalada com o anel com um rubi encastoado e pelas três flores de lis de ouro, tudo em campo azul, peças e esmaltes simbólicos do ramo da Família Menezes que, sendo condes de Cantanhede, foram elevados a marqueses de Marialva.

E, com estas peças e estes esmaltes, fica representada a riqueza e a história local assim como a índole dos seus naturais.

Se a Câmara Municipal de Cantanhede concordar com este parecer, deverá transcrever na acta respectiva, a descrição das armas, bandeira e selo, para enviar ao Sr. Governador Civil uma cópia autenticada, acompanhada com os desenhos rigorosos da bandeira e do selo, pedindo-lhe para remeter todos esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior para, no caso do Sr. Ministro também aprovar, ser publicada a portaria respectiva.

Lisboa, Janeiro de 1936.

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Cantanhede (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/CNT/UI0010/00100).

Transcrição do parecer