Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 23 de Outubro de 1935.

Nos elementos enviados pela Câmara Municipal de Águeda, por o estudo desde parecer, diz-se que no edifício dos paços do Concelho feito em 1860, existem umas armas esculpidas, partidas de Portugal e de duas árvores. Impresso no papel de ofícios, o campo do segundo do partido é de verde e as árvores são de prata.

Nos referidos elementos Alvitra-se que, tendo Águeda pertencido ao meso-árabe Gonçalo Ibn égas, antes da fundação da nacionalidade, seria interessante que tal facto se fizesse referência na composição das armas, como também seria interessante que se fizesse referência à sua padroeira, Santa Eulália, em volta de cuja igreja foi formada a povoação que constitui a vila de Águeda.

Na circular expedida pela D.G.A.P.C. do ministério do interior de 14 de Abril de 1930, que estabelece as regras de heráldica de domínio, está expressa a proibição das armas municipais serem partidas e incluírem as armas nacionais inteiras.

Também está previsto o facto das mesmas armas serem constituídas por elementos que simbolizem a sua história e salientem as suas circunstâncias de vida e riqueza. Só, em casos muito excepcionais, se incluem nas armas de domínio elementos diferentes à vida local anterior à fundação da nacionalidade.

Todas as cidades e vilas portuguesas têm elementos de sobra para constituir as suas armas absolutamente características, simbolizando a ação do povo, pois a heráldica municipal é absolutamente popular, é do povo e para ser compreendida pelo povo. Portanto, é com os elementos naturais que temos que ordenar as armas, bandeira e selo da vila de Águeda.

Já há muitos anos que os naturais de Águeda estão habituados a ver as duas árvores nas armas da sua terra, representando certamente os grandes pinhais existentes na região e que constituem uma fonte de riqueza local na exploração de madeiras.

JPor todas as razões devem depois continuar a figurar duas árvores representativas dos pinheiros, nas armas de Águeda, como também deve figurar o rio do mesmo nome. A fertilidade regional deve ser representada por cacho de uvas, que simbolizam a abundância e representam de facto os vinhos regionais.

Propomos, portanto, que as Armas, Bandeira e Selo da Vila de Águeda sejam assim ordenados:

ARMAS - De prata, com dois pinheiros de verde, troncados e arrancados de negro e frutados de ouro. Em chefe, uma vide de negro em faixa, com três cachos pendentes de ouro, folhados de verde. Em contra-chefe, duas faixas ondadas de azul. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres «Vila de Águeda» a negro.

BANDEIRA - esquartelada de amarelo e verde. Cordões e borlas de ouro e verde. Haste e lança douradas. -

SELO - Circular tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Águeda”. -

Como as peças representativas da fertilidade regional são de verde e de ouro, a bandeira é amarela (que corresponde ao ouro) e verde.

Quando se destina a cortejos e outras cerimónias, a bandeira é de seda bordada, devendo ter uma área de um metro quadrado.

Quando se destina a ser arvorada, é de filel, com as dimensões necessárias, podendo, neste caso, dispensar a inclusão das armas.

O verde dos pinheiros e do folhado da videira, denota esperança e fé.

O negro do troncado e arrancado dos pinheiros e da videira, representa a terra e significa firmesa e honestidade.

O ouro do frutado dos pinheiros e das uvas significa fidelidade, constância e poder.

Os rios, está determinado que se representem por faixas ondadas de prata e azul. O azul na heráldica significa zelo, lealdade e caridade.

Se a Câmara Municipal de Águeda concordar com este parecer, deverá transcrever na acta a descrição das armas, bandeira e selo e enviar uma cópia autenticada dessa acta, acompanhada dos desenhos rigorosos da bandeira e do selo, ao Sr. Governador Civil, pedindo-lhe para remeter esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, para, no caso do Senhor Ministro aprovar, ser publicada a respectiva portaria.

Sintra, Agosto de 1935.

 

Affonso de Dornellas.