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Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Segundo o parecer da
Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses de
20/11/1934
Aprovado pelo Ministro do Interior em 23/01/1936
Portaria
n.º 8348, do Ministério do Interior,
publicada no Diário do Governo n.º 19, 1.ª Série de
23/01/1936
Armas - De vermelho com uma torre torreada de prata, aberta e iluminada de negro. Em chefe, de ouro, uma sertã de negro, acompanhada por duas cruzes de vermelho, uma do Templo e outra de malta. Em contrachefe, dois rios, de prata e de azul, que se ligam ao centro e seguem para o pé do escudo. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres "Vila da Sertã" e "Sartago Sternit Sartagine Hostes", a negro.


Bandeira - Esquartelada de branco e de negro. Cordões e borlas de prata e de negro. Lança e haste douradas.

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Transcrição do parecer
Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de [20] de [Novembro] de 1934.
Em sessão da Câmara Municipal da Sertã, efectuada em 7 de Maio do corrente ano de 1934, foi deliberado solicitar da Associação dos Arqueólogos que se revisse o parecer aprovado em 30 de Janeiro de 1924, visto que alguns investigadores, nos últimos tempos têm ligado a origem do nome desta vila à existência das duas ribeiras que a ladeiam e nela se juntam, contrariamente àqueles que mantêm a crença de que tal nome é o que deriva da tradição simbolizada na divisa e emblemas das actuais.
Ainda no mesmo pedido que ficou exarado na acta da sessão referida, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Sertã, diz: – que seria sobremaneira agradável a esta Comissão Administrativa a organização dumas armas da Sertã em que a tradição e a história se combinassem de modo a satisfazer os diferentes sectores da opinião... –
Ponderadas as opiniões do Reverendo Padre António Lourenço Farinha na sua tão interessante monografia "A Sertã e o seu concelho" e num artigo publicado no "Correio da Beira" de 8 de Dezembro de 1933, ainda com a colaboração do erudito Académico Dr. David Lopes em artigos publicados em Outubro e Dezembro do mesmo ano no mesmo jornal e ainda noutros trabalhos que nos levam a concordar que seria muito interessante acrescentar dois rios e a sua ligação num só, em contrachefe das armas, selo e bandeira, que a antiga Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses aprovou em sessão de 30 de Janeiro de 1924, podendo ainda, em atenção ao grande desejo manifestado pelos naturais de tão antiga Vila que nas Armas, bandeira e selo seja incluída uma legenda em latim, venho propor que essas armas sejam assim constituídas:
ARMAS – De vermelho com uma torre torreada de prata, aberta e iluminada de negro. Em chefe, de ouro, uma sertã de negro acompanhada por duas cruzes de vermelho, uma do Templo e outra de Malta. Em contrachefe, dois rios, de prata e de azul, que se ligam ao centro e seguem para o pé do escudo. Coroa mural de quatro torres de prata. Listel branco com os dizeres "Vila da Sertã" e "Sartago Sternit Sartagine Hostes" a negro.
BANDEIRA – Esquartelada de branco e de negro. Cordões e borlas de prata e de negro. Lança e haste douradas.
SELO – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes e em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal da Sertã" e "Sartago Sternit Santagine Hostes".
Como os esmaltes das peças principais das Armas são de prata e de negro, a bandeira deve ser branca e preta. quando destinada a cortejos ou cerimónias, a bandeira é de seda bordada tendo a área de um metro quadrado.
É indicado o esmalte vermelho para o campo das Armas e para as cruzes, porque, heraldicamente, significa vitórias e guerras, força, vida e energia. A torre torreada é de prata porque este metal heraldicamente simboliza a humildade e a riqueza.
O aberto e iluminado da torre torreada e a sertã, são de negro porque este esmalte representa a terra e significa firmeza e honestidade.
O chefe é de ouro porque é um esmalte que significa nobreza, fé, fidelidade, poder e liberalidade.
Os rios são indicados pelos esmaltes que a heráldica determina.
E assim, com estas peças e com estes esmaltes, fica simbolizada a história local, o valor regional e as qualidades dos seus naturais.
Como esta constituição das Armas da Sertã é baseada na história, as peças (aertã e cruzes) que se encontram na reprodução da bandeira antiga esculpida sobre uma das portas da Igreja matriz, foram colocadas em chefe, que é o lugar de honra, e em campo de ouro, que é o primeiro dos metais na heráldica.
Antigamente as bandeiras municipais eram reproduzidas em pedra e colocada sobre as portas dos castelos ou dos edifícios de maior categoria, como as igrejas, razão porque ainda hoje se chama a bandeira da porta ao quadro envidraçado ou almofadado que há sobre as portas.
É notável que a bandeira da Sertã tenha chegado ate nós, esculpida em pedra, constituída por uma sertã, pela Cruz de Malta e por duas Cruzes dos Templários, pois são raríssimos tais exemplares de escultura de que só conheço mais dois, um, da bandeira de Estremoz que é também do Século XV e outro, de Elvas que é anterior.
Quando na Sertã se construiu o pelourinho, posteriormente a 1513, data do seu foral Manuelino, no capitel, além das Armas do Rei D. Manuel I e do seu emblema pessoal (a esfera) representou-se um escudo com a Cruz de Malta e outro com a reprodução da bandeira que estava esculpida sobre a porta da Igreja, razão porque a sertã ficou dentro duma moldura existente na referida escultura da Igreja, onde se encontra a inscrição.
Enfim, este parecer não deve entrar no caminho que vai levando, pois só se deve referir à revisão das Armas já estudadas e à inclusão dos dois rios que se juntam ao centro da Vila, portanto, fiquemos por aqui.
No caso da Câmara Municipal da Sertã concordar com este novo parecer, deverá copiar na sua acta a descrição das Armas, bandeira e selo, remetendo uma cópia autenticada ao Sr. Governador Civil com o pedido de a remeter à Direcção Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior para, no caso do Sr. Ministro concordar, ser publicada a respectiva portaria.
Sintra, Agosto de 1934.

Affonso de Dornellas.
(Texto adaptado à grafia actual)
Fonte: Processo do Município de Sertã (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/STR/UI0009/00092).
ARMAS DA SERTÃ
Ainda bem que o Rev. Padre António Lourenço Farinha, ilustre autor da Monografia A “Sertã e o seu Concelho” veio dar a sua opinião sobre as Armas da Sertã no jornal da mesma Vila “Correio da Beira”, de 8 de Dezembro corrente.
Bem haja o patriótico Semanário regionalista em ter dado guarida a mais esta opinião, como deu a do sábio e erudito académico Dr. David Lopes. Espero que também me permita dizer o que se segue:
A heráldica á a simbologia dos factos concretos. A heráldica perpétua a história pela simbologia.
Muitas pessoas julgam que a heráldica é uma bazófia sem utilidade, o que é um grave erro.
A adopção da simbologia para caracterizar o domínio, a corporação e a família, data de muitos séculos.
A heráldica divide-se em três partes distintas: a que caracteriza o domínio, a que caracteriza as corporações e a que caracteriza as famílias.
A primeira, a heráldica de domínio, é a que simboliza o Estados, as Cidades e as Vilas, constituindo uma manifestação de cultura patriótica.
Sem se saber como, a heráldica apareceu acompanhando o desenvolvimento da inteligência humana e tomou corpo com os conhecimentos práticos e teóricos da vida. Desde o povo mais humilde até ao mais civilizado, todos marcaram os seus feitos e as razões da sua vida, por um sinal alegórico, por uma representação simbólica.
Até os próprios selvagens têm os seus sinais para distinguir as suas seitas.
A heráldica de domínio é a mais interessante de todas, por ter atravessado muitos séculos sempre com a mesma finalidade. É a heráldica do povo e para o povo.
Os homens bons da terra, aqueles que têm mais cultura, maior desenvolvimento intelectual, são os que constituem a Câmara Municipal. É assim desde os tempos mais remotos.
Esses homens, reunidos como dirigentes da Administração e da Justiça local, necessitam de um selo para autenticar os editais, enfim os documentos que têm de expedir.
Esse selo é transformado em Armas para assinalar os edifícios e outras propriedades municipais, sendo transformado numa bandeira para marcar a existência do Município em cortejos e em cerimónias.
São os homens bons que inicialmente, quando a Vila ou Cidade se forma, quando recebe o seu foral, enfim, quando lhe é permitido constituir o Senado Municipal, são os homens bons, repito, que têm de ordenar o selo municipal ou têm de pedir a pessoa que perceba do assunto, que lho ordene, fornecendo as indicações históricas, de caracter heroico ou administrativo, as condições locais de vida, quais as fontes de riqueza industriais ou agrícolas, tudo enfim que possa facilitar a composição de um selo que se transforme em Armas e em Bandeira e que possa ser compreendido pelo povo, visto que é o emblema de um povo.
A heráldica de domínio não deve ser erudita, não deve ter dificuldades na sua compreensão. Deve ser por forma que, tratando-se por exemplo da Sertã, possa o mais humilde filho desta terra, quando vá correr mundo, levar na sua bagagem, por mais modesta que seja, uma reprodução das Armas da sua terra mãe, para as poder ver quando as saudades o pungirem e então é necessário, que ele veja, não uma fantasia, uma suposição, mas uma lição baseada em factos concrectos.
Sabe que a sua terra teve um castelo muito antigo e que os seus antepassados o defenderam da opressão alheia. Sabe que foram Cavaleiros antigos, os chamados de Malta e do Templo, que a defenderam, que a desenvolveram, que lhe deram vida, sabe que a sua terra é muito antiga e, como tem o nome de Sertã, vê nas Armas respectiva a representação duma sertã.
Se a lenda o encanta, se a história lendária de até uma mulher empunhando uma sertã ter defendido a sua terra, como defenderia a sua mãe, se esta história lhe agrada, lá ter nas Armas a Sertã a marcar a lenda.
E assim, vendo as Armas, vê a história, a vida e a acção da sua querida Pátria pequenina.
Para uma pessoa culta que saiba que uma das faculdades da heráldica consiste em criar peças falantes para facilidade de compreensão, admite a sertã como componente falante entre elementos concrectos da história e vida da Vila da Sertã.
Ainda essas Armas poderiam ser mais completas desde que a torre torreada, representativa da antiga fortaleza, fosse assente num terrado cortado por dois rios que se reunissem num só, visto que o facto se dá e visto que de facto a representação dos rios mostra uma riqueza local da mais alta categoria e importância.
A legenda em latim, essa legenda que é interessante, que se mantenha nos estudos e enfim na história local, poderia porém desaparecer da bandeira, onde bastaria que se indicasse o nome da Vila, como aliás sucede com as outras vilas.
A bandeira da Vila da Sertã é um símbolo popular, humilde, sem pretensão; é a história da terra.
A bandeira deve toda ela ser compreendida pelos naturais da Sertã; não deve ter uma frase em latim que tem ralado os sábios e que não poderá ser compreendida pelo povo – e a mesma bandeira representa esse povo –.
O facto de as antigas armas da Sertã terem apenas a frigideira com os ovos, a Cruz de Malta e as Cruzes que os Templários usavam assentes no peito, não quer dizer que não sejam acrescentadas com outros elementos, visto que a sua história assim o exige.
Uma das missões da heráldica consiste em acrescentar as Armas antigas com novos componentes, conforme a razão histórica.
É ver as Armas de Portugal: Quanta evolução e quantos acrescentamentos tem tido, quantas alterações e quantos aperfeiçoamentos?!
Tudo neste mundo evoluciona e a época presente, a cultura actual, o aperfeiçoamento que se vai desenvolvendo em tudo, exige revisão e exige demonstração de que não parámos.
Para que o povo se estimule em patriotismo, é necessário descrever-lhe quanto valor tem o esforço dos nossos maiores.
A Sertã bem merece que os seus naturais lhe dediquem todos os seus esforços e todo o seu amor para que prevaleça independente, vivendo pela história do futuro como tem vivido na história do passado.
Se a Câmara Municipal assim o desejar, tenho a certeza que a Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos, com o maior prazer estudará uma nova ordenação, onde os rios apareçam, unindo-se para sempre em um só até ao encontro do Zêzere, genuinamente beirão.
(Texto adaptado à grafia actual)
Nota: Este texto, apesar de não se encontrar datado, terá sido redigido entre 9 de Dezembro de 1933 e o final desse mesmo ano, atendendo à referência que é feita ao artigo, do Padre António Lourenço Farinha, publicado no jornal da mesma Vila "Correio da Beira", de 8 de Dezembro corrente, ou seja de 1933, e possivelmente terá sido também publicado no referido jornal.
Fonte: Processo do Município de Sertã (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/STR/UI0009/00092).

Proposta de ordenação heráldica do brasão e bandeira
Segundo o parecer da
Secção de Heráldica e Genealogia da Associação dos Arqueólogos
Portugueses de 30/01/1924
Não adoptada pelo município.
Armas - De vermelho com uma torre de prata. Chefe d'ouro com uma certã de negro acompanhada d'uma cruz vermelha da Ordem do Templo e d'uma cruz vermelha da Ordem de Malta. Coroa mural de quatro torres de prata.


Bandeira - Com um metro quadrado, esquartelada de negro e de branco. Fita branca com letras de negro " SARTAGO STERNIT SARTAGINE HOSTIS ". Cordôes e borlas de negro e de prata. haste e lança de ouro.

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Transcrição do parecer
Parecer apresentado por Affonso de Dornellas e aprovado em sessão de 30 de Janeiro de 1924 na Secção de Heráldica e Genealogia da Associação dos Arqueólogos Portugueses.
Deseja a Vila de Sertã saber como de facto é ou deve ser o seu brasão e portanto o seu selo e a sua bandeira e assim, a sua Câmara Municipal dirigiu à Associação dos Arqueólogos Portugueses o seguinte ofício:
– Ex.mo Sr. Director da Sociedade dos Arqueólogos Portugueses. – Lisboa. – Em nome desta Câmara, venho rogar a V. Ex.ª se digne mandar proceder ao estudo do brasão de armas da Vila da Certã e respectiva bandeira, estudo que interessa sobre maneira a este Município. Agradecendo antecipadamente, desejo a V. Ex.ª Saúde e Fraternidade. Certã, 21 de Janeiro de 1924. O Presidente da Comissão Executiva. (a) Joaquim Tavares.
Este ofício traz um selo em branco tendo ao centro o escudo que usam na Sertã, tendo como peça principal uma sertã com seis ovos e a conhecida legenda em volta da mesma sertã.
São de facto problemas difíceis de resolver os que constantemente estão aparecendo nesta Secção de Heráldica, que sempre tem procurado acertar e informar com uma relativa segurança as pessoas ou entidades que se lhe dirigem.
Sobre a Sertã há vários trabalhos já publicados e se bem que nem todos mereçam aquela confiança que possa nascer das conclusões tiradas por uma rápida leitura, são no entanto importantes como elemento de estudo. Há pontos que ainda não foram tocados, pelo menos nas obras que conhecemos, e que talvez por analisarmos a questão debaixo do ponto de vista heráldico, nasceu em nós a ideia de que encontramos alguma novidade, ou por outra, um modo de ver diferente do seguido até aqui por aqueles que se têm referido ao brasão de Sertã.
Para poder estudar o brasão da Sertã, cerquei-me das seguintes obras:
– As Cidades e Villas da Monarchia Portugueza que teem brazões d'Armas por I. de Vilhena Barboza. – Pág. 120 – Volume I – Lisboa 1860.
– Collecção de Brazões coloridos das Cidades e Villas de Portugal. Sem autor nem data.
– Portugal Antigo e Moderno – Diccionario etc., por Augusto Soares d’Azevedo Barboza de Pinho Leal. – Pág. 251 – Volume II – Lisboa 1874 – pág. 25. – Volume VIII – Lisboa 1878 – pág. 196 – Volume IX – Lisboa 1880.
– Portugal. Diccionario Historico, Biographico, Bibliographico, Heraldico, etc., pág. 988 – Volume lI – Lisboa 1906.
– Memorias da Villa de Oleiros e do seu Conselho pelo Bispo d’Angra D. João Maria Pereira d’Amaral e Pimentel – Angra do Heroísmo 1881.
– O Collegio das Missões de Sernache do Bom Jardim pelo Padre Candido da Silva Teixeira – Lisboa 1905.
– Sernache do Bom Jardim pelo Padre Candido da Silva Teixeira. Lisboa 1906, e muito principalmente – Certã Enobrecida ou Descripção photographica da Villa de Certã – Manuscrito precioso da autoria de Jacintho Leitão Manso de Lima, escritor notável do princípio do século XVIII e que nasceu na Vila de Sertã em 16 de Agosto de 1690.
Esta obra consta de 3 volumes que existem na Biblioteca Nacional de Lisboa na Secção dos Manuscritos.
O Padre Candido da Silva Teixeira, na sua obra acima citada – Sernache do Bom Jardim, Lisboa 1905, em apêndice à mesma, transcreve o primeiro capítulo do Manuscrito de Manso de Lima por ser monográfico. O resto deste manuscrito ocupa-se das genealogias das famílias de Sertã. E basta. Lido tudo isto, vejo que em todo o sempre foi conhecido como representação heráldica da Vila da Sertã, uma sertã que sempre andou acompanhada da legenda «Sartago Sternit Sartagine hostis», umas vezes empregando o S, outras o C, não só para a divisa como para o nome da terra.
Outras variantes ainda se encontram, mas agora tentando liquidar o assunto procurei o Ilustre Académico e Professor José Maria Rodrigues que me diz ser possível que em documentos medievais apareça Sertago… Sertagine, mas que em latim clássico é Sartago… Sartagine.
Portanto está o caso arrumado. A divisa da Sertã é – Sartago Sternit Sartagine hostis –.
Rezam quási todas as obras que tratam da fundação e do brasão de Sertã, que foi esta vila fundada 74 anos antes de Cristo, foi Sertório que lhe construiu um forte Castelo.
Era capitão deste Castelo um cavaleiro que foi morto pelos Romanos quando cercaram a Vila e a tentaram entrar, mas Celinda, mulher do capitão referido, «que estava guisando ovos n’uma Certage», agora Sertã, cheia de ira por ver o marido morto, foi ao encontro dos Romanos e com a frigideira ou certage, ou ainda certã, deu com ela na cabeça do chefe e o azeite a ferver e os ovos e a sertã serviram de instrumentos de morte para o audacioso romano, que caiu à frente dos seus que envergonhados retrocederam e abandonaram a conquista.
Ora esta infantil história, tem sido infelizmente repetida por estudiosos de século para século com uma tal afirmativa que não merece dúvidas.
Duvidamos nós e duvidamos porque:
1.º – Se Sertório fundou a Sertã, deu-lhe nome, pois não se compreende que haja uma vila fortificada que não tenha nome.
2.º – Qual seria portanto o nome da Sertã antes do cerco e tomada pelos Romanos, visto que se quer atribuir o nome da Vila ao facto passado por ocasião da morte do tal capitão? Não tinha nome anteriormente?
3.º – Pensando um pouco, haverá alguém que julgue que um exército, ou uma formação qualquer, depois de ter entrado uma fortaleza e de ter morto o capitão dela, recue envergonhado abandonando a presa porque uma mulher matou o chefe com uma sertã?
E depois vejamos: Vêem uns e dizem que a Sertã foi fundada por Sertório, 74 anos antes de Cristo, vêem outros e dizem que o cerco e assalto Romano é que foi 74 anos antes de Cristo.
Há quem afirme que a Sertã foi fundada por Certino, capitão Romano segundo uns e ainda mais antigo do que os Romanos segundo outros.
Certino fazia parte da invasão inicial dos Romanos na parte da península onde se encontra Portugal, portanto seis séculos aproximadamente antes de Cristo e o caso de Celinda consta ter sido 74 anos antes de Cristo.
O que nos parece desta dedução é que a Sertã não deve o seu nome a uma sertã de fritar, pois que no decorrer destas diversas razões de origem nos aparece um Certino, um Sertório e uma Celinda.
A preocupação de criar uma lenda para cada caso da história, fez com que não se lembrassem que a história da sertã de fritar, é sempre acompanhada de referências a Sertório e a Certino que seria muito mais lógico que tivessem dado o nome à terra por a terem fundado, do que o tal caso de Celinda.
Abstraindo-nos por completo da história de Celinda que é evidentemente uma invenção, atribuiremos o nome de Sertã ou da Antiga Sartago, a Sertório ou a Certino.
Apareceu a moda das lendas e então é que se criou a Celinda e a sua sertã de guisar ovos. Transformou-se o nome de Sartago em Sertã o que não nos parece difícil e depois a criação do brasão foi um instante.
A divisa «Sartago Sternit Sartagine hostis» é que naturalmente vem de épocas remotas e sem se referir a uma sertã de guisar ovos, refere-se naturalmente ao facto de a própria Fortaleza da Sertã se ter defendido com a sua gente do cerco dos Romanos, sem necessitarem do auxílio de estranhos, ou seja, a Sertã, defende-se a si própria.
É este o nosso modo de ver e é isto que julgamos ser uma nova interpretação da origem do nome da Sertã que se não fosse a lenda, naturalmente ainda hoje se chamaria Sartago.
Há portanto quem desenhe o brasão da Sertã de vermelho com uma sertã em contrabanda com cinco ovos em aspa e em volta da mesma e dentro do escudo a divisa referida, como faz Vilhena Barbosa, o Dicionario Portugal, etc., e sem os ovos a Colecção dos Brazões das Villas e Cidades e quem segue o seu desenho.
A Sertã tem uma só freguesia que tem S. Pedro por patrono e por cima da porta da sua Antiquíssima Igreja, está esculpida a sertã com os ovos como está numa das faces do pelourinho.
O sr. G. L. dos Santos Ferreira, mestre da Heráldica Portuguesa, não querendo convencer-se de que fosse verdadeira a história da Celina ou Celinda, interpretou o brasão da Sertã como um erro de visão do autor da escultura referida que existe por cima da porta da Igreja de S. Pedro.
Em 14 de Agosto de 1912, este erudito heraldista na Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos, fez uma larga exposição sobre os brasões das Cidades e Vilas, sobre a importância do selo e portanto, do brasão, descrevendo que os dois primeiros cuidados de qualquer Vila que recebia foral, era organizar o selo e construir o pelourinho, por serem as insígnias correspondentes aos direitos de fazerem leis e de administrarem justiça.
Refere-se G. L. dos Santos Ferreira a que alguns concelhos adoptavam para seus selos:
– Atributos heráldicos de antigos senhorios.
– Circunstâncias naturais, económicas ou sociais da localidade.
– Monumentos arquitectónicos mais em evidência, como castelos. pontes, aquedutos, etc.
– Em alguns casos menos frequentes, os emblemas dos selos eram falantes, reproduzindo portanto no todo ou em parte, o nome da localidade.
Esta última circunstância apontada pelo sr. Santos Ferreira é a que com certeza foi seguida pelos habitantes da Sertã.
Sobre propriamente o brasão da Sertã, diz o mesmo heraldista:
«…o brasão da Sertã é apenas alegórico de S. Pedro, padroeiro da Vila e orago da freguesia matriz. Sobre a porta da respectiva igreja existe uma lápide com esta inscrição. – Era de 1494. No dia de S. Pedro foi sagrada esta Igreja. – Ao centro em grosseiríssimo desenho, está figurada a – porta do céu – e uma chave, atributos característicos da modesta ocupação que a igreja católica reservou ao pobre santo na sua velhice milenária. Aconteceu que o artista, desenhador daqueles símbolos, se saiu tão pouco dextramente do seu encargo, que mais parece, na verdade, ter querido desenhar uma frigideira do que uma porta e uma chave; conquanto nenhuma dúvida possa haver de ter sido esta a sua intenção, como é atestado por uma fotografia que possuo».
Outras considerações faz o sr. Santos Ferreira ao brasão da Sertã, mas a minha intenção era apenas referir-me à interpretação dada da «porta do céu», em vez da sertã.
Não concordo e não concordo pelo que acima deixo exposto, a Sertã ou a Sartago, deve ter no seu brasão e portanto no seu selo, uma Sertã.
É mais explicável para o povo, o ter no brasão da sua terra uma peça falante podendo ser, do que uma porta do céu por o seu padroeiro ser S. Pedro. Então teriam no brasão a imagem de S. Pedro e não uma porta.
A Sertã, teve uma excepcional importância por primitivamente ter pertencido à Ordem do Templo e depois à Ordem de Malta.
Entrou a Ordem do Templo em Portugal no século XII e a sua cruz emblema, encontra-se nos monumentos mais antigos da Sertã e de Pedrogão Pequeno, como seja a Igreja Matriz da primeira e a Igreja da Nossa Senhora das Águas Férreas da segunda.
Também por estas paragens houve Conventos de Templários de que ainda há restos.
Tudo quanto por aqui pertencia à Ordem do Templo, passou à Ordem de Malta.
O Castelo da Sertã tinha cinco quinas e nele fizeram os cavaleiros de S. João de Jerusalém em 1403, eleição de D. Prior de Crato, tendo recebido tão alta dignidade, D. Lourenço Esteves de Goyos.
Era a Sertã a segunda terra do Priorado do Crato.
Os Alcaides Mores da Sertã desde o Reinado de D. Duarte até 1587 foram da família Caldeira, sendo depois nomeadas várias pessoas entre as quais das Famílias dos Condes da Ribeira e dos Condes de Belmonte.
Por cima da porta do Sul da Igreja de S. Pedro há uma inscrição a que já acima me referi e segundo Manso de Lima, também ali se vê um escudo com a Cruz dos Pereiras e ao lado da porta o escudo de D. João I.
Foi engano de Manso de Lima na referência à Cruz dos Pereiras, pois o que lá deve estar é a Cruz do Templo.
Enfim é a Sertã de remota antiguidade e com uma grande história, sendo portanto muito louvável que os seus actuais homens bons queiram fazer reviver as suas tradições e ordenar o seu brasão e a sua bandeira.
É fácil portanto organizar o selo ou brasão, visto haver tanto elemento.
Vejamos como propomos seja ordenado o brasão da Sertã:
– De vermelho com uma torre de prata. Chefe de ouro com uma sertã de negro acompanhada de uma cruz vermelha da Ordem do Templo e de uma cruz vermelha da Ordem de Malta. Coroa mural de quatro torres de prata. Bandeira com um metro quadrado, esquartelada de negro e de branco. Fita branca com letras de negro. Cordões e borlas de negro e de prata. Haste e lança de ouro.
Como as peças principais são a torre de prata e a sertã de negro, deve a bandeira ser esquartelada de negro e de branco tendo por debaixo do escudo uma fita branca com a legenda – Sartago Sternit Sartagine hostis – a letras pretas.
É interessante que a Sertã pertencendo desde o começo da Monarquia à Ordem do Tempo, teve com certeza por vezes nas torres do seu Castelo a bandeira desta Ordem, que era partida de branco e de preto com a Cruz Vermelha da Ordem ao centro.
[Affonso de Dornellas.]
(Texto adaptado à grafia actual)
Fonte: Processo do Município de Sertã (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/STR/UI0009/00092); DORNELLAS, Affonso de, «Sertã», in Elucidário Nobiliarchico: Revista de História e de Arte, II Volume, Número IV, Lisboa, Abril 1929, pp. 109-113.
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