Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos, Portugueses e aprovado em sessão de 23 de Outubro de 1935.

Em ofício de 17 de Janeiro de 1930, o Sr. Governador Civil do Distrito de Castelo Branco informou a Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, de que a Vila de Oleiros não tinha bandeira própria.

Chegado o momento de formular o respectivo parecer, e como nenhum elemento fosse fornecido para satisfazer o exposto na circular do Ministério do Interior expedida em 14 de Abril de 1930, fui ler o que dizem os estudiosos sobre heráldica de domínio e, no “Portugal Antigo e Moderno", a pág. 220 do VI Volume, encontrei que no Pelourinho de Oleiros existiam as armas municipais que constam de quatro chafarizes representativos dos olhos de água existentes na região e que a etimologia da palavra "oleiros" vem de olhos, pois Oleiros devia se ter escrito com dois LL, o que em espanhol daria olheiros.

Outros escritores copiaram este.

Da Câmara Municipal de Oleiros recebi porém o conselho de consultar a obra "Memórias da Villa de Oleiros e do seu Concelho" – Angra do Heroísmo, 1881, da autoria do Bispo de Angra, D. João Maria Ferreira do Amaral e Pimentel.

Esta obra é posterior ao 6º volume do "Portugal Antigo e Moderno" de Pinho Leal, que o publicou em 1875.

Belmonte ou Bello Monte, tem como o próprio nome indica uma situação privilegiada. É um ponto de vista colossal. A majestosa Serra da Estrela desenrola-se na sua frente como pano de fundo de um panorama assombroso. Avistam-se povoações a grande distância salientando-se a Covilhã entre elas.

O Bispo de Angra diz que é uma autêntica fantasia o que ali se diz, pois o pelourinho não tinha quatro chafarizes, nem na região existem olhos de água e muito menos oleiros vem de olheiros, mas de fabricantes de loiça de barro.

Não constava ao mesmo ilustre autor que Oleiros tivesse tido armas, mas, a pág. 70 da mesma obra, cita uma carta do Rei D. João I datada de 14 de Agosto de 1416, fazendo referência a um documento selado com um selo do Concelho de Oleiros.

Portanto, teve selo; e, se teve selo, é porque teve armas.

Perdeu-se-lhe a notícia.

Por doação de D. Sancho I em carta de 13 de Junho de 1194, passou Oleiros a pertencer à Ordem Hospitaleira de S. João de Jerusalém, fazendo parte das doze vilas que foram da mesma Ordem.

Foi Oleiros Comenda da Ordem e sede de mosteiro onde reuniram capítulos gerais em 1260 e em 1261.

Isto é um pequeníssimo resumo da parte histórica.

Com referência aos valores regionais, temos que Oleiros é banhada por um ribeiro que a torna muito fértil e lhe dá muito peixe. Na agricultura salientam-se os cereais, vinho, azeite e, principalmente, castanha.

São estes elementos mais do que suficientes para ordenar as armas, bandeira e selo da Vila de Oleiros que podem ser assim constituídas:

ARMAS – De azul, com uma Cruz de Malta de prata carregada no cruzamento por um ramo de três ouriços de castanheiro de ouro, abertos de vermelho e folhados e troncados de verde. Em contrachefe, três faixas ondadas, duas de prata e uma de azul, carregada por três peixes de prata realçados de negro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres "Vila de Oleiros" de negro. –

BANDEIRA – Esquartelada de amarelo e de vermelho. Cordões e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança douradas. –

SELO – Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "Câmara Municipal de Oleiros".

Como o metal e a cor principais das armas são de ouro e de vermelho, a bandeira é de amarelo (que corresponde ao ouro) e de vermelho. Quando destinada a cortejos ou cerimónias, a bandeira deve ter a área de um metro quadrado, é de seda e bordada. Quando destinada a ser arvorada, é de filel, com as dimensões julgadas convenientes, podendo dispensar as armas.

O campo das armas e a faixa do rio são de azul porque este esmalte em heráldica significa zelo, lealdade e caridade.

A Cruz de Malta, as faixas do rio e os peixes são de prata, metal que denota humildade e riqueza.

Os ouriços são de ouro, metal que significa fidelidade, constância e poder. O aberto dos mesmos ouriços é de vermelho, que heraldicamente significa a força, a vida e a energia.

O folhado e troncado do castanheiro é de verde, esmalte que significa esperança e fé.

Se a Câmara Municipal de Oleiros concordar com este parecer, deverá transcrever na acta a descrição das armas, bandeira e selo para enviar ao Sr. Governador Civil uma cópia autenticada da mesma acta, com desenhos rigorosos da bandeira e selo, pedindo-lhe para remeter esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, para, no caso do Sr. Ministro aprovar, ser publicada a portaria respectiva.

Sintra, Setembro de 1935.

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Oleiros (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/OLR/UI0009/00089).