Parecer apresentado por Affonso de Dornellas à Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e aprovado em sessão de 20 de Dezembro de 1935.

A Câmara Municipal de Barrancos, desejando possuir as suas armas, bandeira e selo, solicitou da Associação dos Arqueólogos que lhe fosse feito o respectivo estudo.

Barrancos era antigamente uma povoação do Concelho de Noudar; hoje, a antiga Vila de Noudar é que faz parte do Concelho de Barrancos.

Os elementos históricos e as circunstâncias regionais da antiga Vila de Noudar, não podem servir para simbolizar a, relativamente moderna, Vila de Barrancos.

Pode transferir-se a sede de um concelho, mas não se pode transferir a história de uma região para outra.

Temos pois que salientar as circunstâncias referentes à Vila de Barrancos que domina uma região banhada pelo Guadiana e que tem grandes montados de sobreiros e extensas pastagens, sendo a sua riqueza constituída pelo grande desenvolvimento pecuário, tendo ainda a cevada, a aveia e o trigo, etc., além da grande quantidade de minas de ouro, cobre, ferro, etc.

Com estes elementos, parece-nos que as Armas, bandeira e selo da Vila de Barrancos devem ser assim ordenadas:

- ARMAS De prata, com um sobreiro de verde com troncos de negro e frutado de ouro, sobre um terrado de sua cor, cortado por três faixas ondadas, duas de prata e uma de azul. No terrado, um javali passante de ouro realçado de negro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres “Vila de Barrancos” -

- BANDEIRA Esquartelada de amarelo e de azul. Cordões e borlas de ouro e de azul. Haste e lança douradas. -

- SELO - Circular, tendo ao centro as peças das armas sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Barrancos”. -

Como os esmaltes principais das Armas são de ouro e de azul, a bandeira é de amarelo (que corresponde ao ouro) e de azul. Quando se destina a cortejos ou outras cerimónias, a bandeira deve medir um metro quadrado e é de seda e bordada. Quando é para arvorar, é de filel e terá as dimensões julgadas convenientes, podendo dispensar as armas.

A prata do campo e das faixas ondadas do rio, representa heraldicamente, humildade e riqueza.

O verde do sobreiro é o esmalte que na heráldica significa esperança e fé.

O negro dos troncos e do realçado do javali, é o esmalte que representa a terra e significa firmeza e honestidade. O javali representa a grande riqueza pecuária local e é de ouro, assim como o frutado, porque este metal representa a fidelidade, a constância e o poder.

Os rios são dos esmaltes que a heráldica determina. O azul significa zelo, lealdade e caridade.

E assim, com estas peças e estes esmaltes, ficam representadas as riquezas regionais e a índole dos naturais.

Se a Câmara Municipal de Barrancos concordar com este parecer, deverá transcrever na acta a descrição das Armas, bandeira e selo e enviar ao Sr. Governador Civil uma cópia autenticada, com os desenhos rigorosos da bandeira e do selo, pedindo-lhe para remeter esses elementos à Direcção Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, para, no caso do Sr. Ministro aprovar, ser publicada a respectiva portaria.

Sintra, Setembro de 1935.

 

Affonso de Dornellas.

(Texto adaptado à grafia actual)

Fonte: Processo do Município de Barrancos (arquivo digital da AAP, acervo “Fundo Comissão de Heráldica”, código referência PT/AAP/CH/BRC/UI0005/00045).